O incêndio que atingiu o Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista zona Norte do Rio de Janeiro, tocou na ferida que há tempos tem sido pauta de discussão entre historiadores, arquivistas e pesquisadores. Já é sabido que o Brasil sofre grande carência na tarefa de preservar seu patrimônio e uma série de problemas de investimentos impossibilita a manutenção de espaços como esse.
Mais antigo do país, o Museu Nacional veio sofrendo com corte de verbas, baixo investimento e até o número de visitantes apresentou uma queda expressiva. Como em tantos outros casos, a estrutura do espaço alertava para futuros problemas, mas pouco foi feito para evitar essa tragédia anunciada.
Entre os anos de 1808 a 1821, o prédio foi residência da família real portuguesa, abrigou a família imperial brasileira de 1822 a 1889, sediou a primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, e se tornou museu em 1892. Desde 1938 o edifico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Vinte milhões de itens relativos a áreas como arqueologia, zoologia, etnologia e geologia, incluindo coleções da antiguidade, trazidas ao Brasil no século XIX foram consumidos pelo fogo no último domingo, entre eles o fóssil mais antigo já encontrado por arqueólogos brasileiros, a famosa Luzia. A história tratou de preserva-la até os dias de hoje, e nós, negligentes com o patrimônio histórico arqueológico a perdemos.
Instituições que cumprem o papel de salvaguardar bens públicos de cunho histórico sofrem há um longo tempo com o subfinanciamento, descaso e precarização. Vivemos um período de abandono da nossa história, cultura e memória. Tempos como esse deveriam servir para fortalecermos as políticas de preservação, incentivar os campos da pesquisa e desenvolvimento cientifico do país. No entanto, quanto mais necessitamos disso, menos o fazemos.
Na entrada do museu havia um recado aos visitantes: “Todos que por aqui passem protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir seu próprio futuro”. Já não somos mais o povo que soube construir nosso próprio futuro.
Milena Gomes Soares, historiadora