Museu Nacional: patrimônio que arde nas chamas do descaso

Mais uma tragédia anunciada. Fundado em 1818 por Dom João VI, O Museu Nacional era a mais antiga instituição científica do país. Instalado no Palácio de São Cristóvão no Rio de Janeiro, imponente construção que serviu de residência oficial da família real portuguesa de 1808 a 1821 e da família imperial brasileira de 1822 a 1889, além de ter sediado a Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, até ser aberto oficialmente como museu em 1892. Seu acervo de mais de 20 milhões de itens – formado por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações – incluía uma importantíssima coleção de ciências naturais e antropológica, sendo um dos maiores do gênero no continente. Tinha também uma das maiores coleções de artefatos egípcios da América Latina. Isso sem falar nas inúmeras pesquisas ali desenvolvidas, nos inúmeros cursos de extensão, especialização e pós-graduação ali oferecidas. 200 anos de história consumidos pelo fogo em poucas horas.

Não se sabe ainda as causas do incêndio, que se alastrou rapidamente graças a grande quantidade de materiais inflamáveis, mas o que já se sabe é que há anos o museu sofria com a tradição do descaso das últimas gestões públicas. Faltava verba para pesquisa, para manutenção básica, para restauros, para modernização da estrutura, para melhoria da segurança. Faltava verba para se manter vivo. O incêndio do último domingo expõe, mais uma vez, as fragilidades que envolvem o nosso patrimônio cultural e as politicas que a conduzem. Mais que isso, fere a nossa história, nossas lembranças, nossas recordações, nossa identidade. Patrimônio é isso. E como um agente ativo da memória da sociedade, defender e estimular a preservação de tais elementos nada mais é, então, que referenciar nossa identidade social, é buscar garantir sua própria continuidade. Resumindo: não há identidade sem memória. Mas será que já não perdemos essa identidade?

Nos últimos 10 anos, vimos o Teatro Cultura Artística, o Prédio de Coleções do Instituto Butantan, o Museu da Língua Portuguesa, a Cinemateca Brasileira e o Edifício Wilton Paes de Almeida arderem. Agora foi a vez do Museu Nacional, que ardeu nas chamas do descaso. Perda irreparável. Mais um golpe terrível para o nosso país. Até quando isso irá acontecer? Uma coisa parece certa: a comoção agora é grande, mas logo virá o esquecimento. Assim como foi com aquele teatro com o afresco de Di Cavalcanti, o museu sobre a nossa língua ou o prédio modernista do Largo do Paiçandu. Bem, como disse uma vez a grande historiadora Emília Viotti da Costa, “um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”.

Por Rafael Meireles.

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